Sunday, January 19, 2014

Entrevista de Kevin Ashton ao portal Convergência Digital


A Internet das Coisas ainda está em fase inicial, mas seu potencial é imenso. Em entrevista ao Convergência Digital, Kevin Ashton, que cunhou o termo, fala sobre o papel das diversas tecnologias para alcançar a tão sonhada conexão entre máquinas sem interferência humana. Ashton ficou bastante conhecido pela sua defesa da tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID). “A Internet das Coisas tem o potencial de mudar o mundo, assim como a Internet o fez. Talvez até mais”, pontuou.

Convergência Digital — O termo Internet das Coisas foi cunhado por você. Como se deu isto?

Kevin Ashton O termo Internet das Coisas ganhou vida como título de uma apresentação que fiz para a Procter & Gamble em 1999. O que eu quis dizer naquela época, e que ainda digo, é o seguinte: hoje, computadores — e, portanto, a Internet — são quase totalmente dependentes de seres humanos para obter informações. Quase todos os cerca de 50 petabytes (um petabyte equivale a 1024 terabytes) de dados disponíveis na Internet foram capturados e criados por seres humanos, seja digitando, apertando um botão de gravação, tirando uma foto digital ou digitalizando código de barras. Diagramas convencionais da Internet incluem servidores e roteadores e assim por diante, mas deixam de fora os mais numerosos e importantes roteadores de todos os tempos: as pessoas. O problema é que as pessoas têm tempo, atenção e precisão limitados em tudo, o que significa que elas não são muito boas em captar dados sobre as coisas do mundo real.

CDO que isto quer dizer?
Ashton — Isto é de grande relevância. Nós somos físicos e assim também é o nosso ambiente. Nossa economia, sociedade e sobrevivência não são baseadas em ideias ou informações, mas sim em coisas. Você não pode comer bits ou queimá-los para se aquecer ou transformá-los em seu tanque de gasolina. Ideias e informações são importantes, mas as coisas importam muito mais. No entanto, a tecnologia da informação de hoje é tão dependente de dados originados por pessoas que os nossos computadores sabem mais sobre ideias do que sobre coisas.
Se tivéssemos computadores que soubessem tudo o que haveria para saber sobre as coisas, usando dados coletados, sem qualquer ajuda nossa, seríamos capazes de monitorar e contar tudo, além de reduzir muito o desperdício, a perda e o custo. Assim, nós saberíamos quando as coisas precisariam de substituição, reparo ou tivessem recall. E ainda saberíamos quando as frutas estariam frescas ou passadas.
Precisamos capacitar os computadores com os seus próprios meios de capturar informação para que eles possam ver, ouvir e sentir o mundo por si mesmos, em toda a sua glória aleatória. A [identificação por radiofrequência] RFID e tecnologias de sensor permitem que os computadores observem, identifiquem e compreendam o mundo, sem as limitações dos dados inseridos por humanos.

CDHá bastante tempo você fala sobre sensores que ligam tudo. O que mudou desde que começou a levantar a questão?
Ashton — Em dez anos, fizemos um grande progresso, mas a comunidade RFID precisa entender o que é tão importante sobre o que a nossa tecnologia faz, e manter-se advogando para ela. A Internet das Coisas tem o potencial de mudar o mundo, assim como a Internet o fez. Talvez até mais.

CDVocê sempre focou muito em RFID, mas agora, quando falamos de Internet das Coisas, aborda-se mais a conexão por chips de celular. O que aconteceu?
Ashton — RFID (que contém um chip) é um caminho para os computadores perceberem identidade. Isto é essencial antes mesmo de outros tipos de sensores (por exemplo, de temperatura) que são realmente úteis. Como já se resolveu o problema de identidade, temos sido capazes de avançar para outros tipos de sensores.

CDComo a Internet das Coisas vai evoluir?
Ashton — É difícil prever, mas esperamos mais sensores, mais ubiquidade e mais e mais dados. E mais consequências inesperadas.

CDEm que estágio de adoção de IoT estamos?
Ashton — Estamos apenas começando. Nós ainda temos muito que aprender. Minhas previsões são sempre erradas; e há muita coisa que não sabemos. É um grande sistema e vai levar um longo tempo ainda. Eu prevejo que vai demorar mais do que esperamos.

CD Quais indústrias estão na frente, liderando este movimento?
Ashton — A indústria automotiva é uma delas, e o varejo é outra. A primeira beneficia-se da rápida identificação em estradas e dos sistemas de sensores em veículos. Já os varejistas estão fazendo o gerenciamento da cadeia de abastecimento, que tem escala e complexidade sem precedentes. E fazer a captura de dados de forma automatizada dá a eles uma eficiência essencial.

CDComo você avalia os fornecedores de TI preparando-se para prover soluções para IoT? Qual é o impacto para as empresas de telecom?
Ashton — Os vencedores serão provavelmente empresas das quais nunca ouvimos falar, as start-ups que, provavelmente, vivem seus estágios iniciais hoje. É assim que sempre acontece. Eu não sei o papel que as telcos irão desempenhar. Existe o perigo de ser tarde demais. Quando você está fazendo bilhões de dólares a partir de algo como telefonia, pode ser difícil ficar animado sobre fazer milhões de algo como a Internet das Coisas. Então, um dia, IoT valerá bilhões, e pode ser que elas tenham perdido a oportunidade. A indústria de tecnologia geralmente “troca sua pele” a cada vez que há uma grande mudança como esta.

fonte: Convergência Digital

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